quarta-feira, 21 de outubro de 2009

NOVOS REBANHOS

Conheça as diferenças entre os grupos evangélicos tradicionais, pentecostais e neopentecostais
As igrejas protestantes se dividem em três ramificações: as tradicionais, as pentecostais e as neopentecostais. As tradicionais compreendem principalmente as chamadas "igrejas históricas" que se originaram na Reforma Protestante ou bem próximo dela.
As pentecostais, por sua vez, englobam, as que tiveram início no reaviva mento nos Estados Unidos, entre l906 e l910. Esse fenômeno é um racha entre igrejas norte-americanas. As experiências "místicas do "batismo no Espírito Santo" levaram os membros a serem excluídos de suas antigas igrejas, formando, assim, outras comunidades que levaram o nome de Assembléias de Deus, "não confundir com a igreja brasileira que leva o mesmo nome).
Finalmente, os neopentecostais são igrejas oriundas dos pentecostalismos originais ou mesmo de igrejas tradicionais. Surgiram 60 anos depois do movimento pentecostal.
DIFERENTES GRUPOS
Mais rígido na interpretação da doutrina, os evangélicos tradicionais diferem apenas em relação à experiência do chamado "Batismo no Espírito Santo". Não aceitam o "Falar em outras línguas" (glossolagia) e dão forte ênfase ao ensinamento teológico e ao trabalho social, não se preocupando com usos e costumes, como vestimentos e adornos.
Já os neopentecostais formaram uma outra igreja, co-existindo conjuntamente com as pentecostais, mas sem se identificar com elas. Dão bastante ênfase ao louvor e são mais flexíveis teologicamente. É o grupo que mais cresce atualmente no Brasil - resultado do maciço investimento na mídia, com fazem as igrejas Universal e da Graça.
CORRENTES RELIGIOSAS
Tradicionais ou históricas
LUTERANA: fundada por Martinho Lutero (l524)
PRESBITERIANA: fundada por João Calvino (l5l7)
ANGLICANA: fundada pelo rei da Inglaterra Henrique VIII (l558)
BATISTA: fundada por John Smith (l609)
METODISTA: fundada por John Wesley (l740)
Principais Igrejas Pentecostais do Brasil
ASSEMBLEIA DE DEUS: fundada pelos missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren (l9ll) é a principal expoente do pentecostalismo no Brasil
CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL: fundada por Louis Francescon (l910)
IGREJA DO EVANGELHO QUADRANGULAR: fundada por Aimée Semple McPherson (l950)
O BRASIL PARA CRISTO: fundada por Manoel de Melo (l955)
DEUS É AMOR: fundada por Davi M. Miranda (l962)
Principais Igrejas Neopentecostais do Brasil
UNIVERSAL DO REINO DE DEUS: fundada por Edir Macedo (l977)
IGREJA INTERNACIONAL DA GRAÇA DE DEUS: fundada por Romildo R. Soares (l980)
SARA NOSSA TERRA: fundada por Robson Rodovalho (l980)
RENASCER EM CRISTO: fundada por Estevam Hernandez (l986)
O CRESCIMENTO DA IGREJA
TODA IGREJA LOCAL DEVE CRESCER: . Geograficamente . Crescer numericamente. Crescer espiritualmente. Crescer verdadeiramente. Crescer rapidamente
Toda igreja local deve crescer. Se a sua igreja não está crescendo, ela está espiritualmente doente. Lucas mostra em Atos dos Apóstolos que a igreja crescia pela vontade de Deus. É ele quem produz o crescimento da sua igreja. Esse crescimento, contudo, é promovido por Deus em resultado ao trabalho dos crentes que obedecem à Grande Comissão. Observem que em Atos, a igreja crescia por ação de Deus e pelo trabalho missionário dos irmãos. Lucas apresenta cinco maneiras como a igreja crescia ou como ela deve crescer hoje: crescimento geográfico, numérico, espiritual, verdadeiro e rápido.
1. CRESCIMENTO GEOGRÁFICO
O crescimento geográfico é a expansão do evangelho a partir da igreja local, de forma simultânea, até aos confins da terra. O versículo chave: "Mas receberei o poder, ao descer sobre vós o Esopírito Santo, e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém, com toda a Judéia e Samarias, até aos confins da terra". (1.8). Observe que este versículo serve como esboço para o conteúdo do livro de Atos:
O evangelho se propaga por toda Jerusalém e Judéia - capítulos 1-7.
O evangelho se propaga por Samaria e regiões vizinhas - capítulos 8-l2.
O evangelho se propaga a terras distantes - capítulos 13-28
Em síntese: Missões locais, missões regionais e missões internacionais.
Toda igreja local deve ter uma visão de crescer geograficamente financiando missões, plantando igrejas, sustentando missionários em diversas regiões.
2 . CRESCIMENTO NUMÉRICO
O crescimento numérico é o aumento natural do número de pessoas convertidas pero Espírito Santo e acrescentadas à igreja. Lucas não esconde o fato de que a igreja crescia numericamente, por isso ele fez seus resumos em Atos.
l.l-6.7 - Nos fala do crescimento da Igreja de Jerusalém e finaliza com um resumo: Crescia a palavra de Deus e, em Jerusalém, se multiplicava o número de discípulos; muitíssimos sacerdotes obedeciam a fé. A igreja crescia e se multiplicava em número de membros que obedeciam ao chamado eficaz de Deus. O crescimento era resultado direto da pregação e do ensino dos apóstolos.
6.8 - 9.31 - Descreve a divulgação do cristianismo através da Palestina e o martírio de Estevão, que foi seguido pela pregação em Samaria. Finaliza com o resumo: A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor e no conforto do Espírito Santo, crescia a número. Em todos os lugares a igreja aumentava em número de membros. Duas razões são apontadas para esse aumento: Os crentes viviam no temor do Senhor e experimentavam o conforto do Espírito Santo.
9.32 - l2.24 - Inclui a conversão de Paulo, a Igreja de Antioquia e a aceitação de Cornélio. O resumo é: "Entretanto a palavra do Senhor crescia e se multiplicava". A igreja crescia e multiplicava-se numericamente por meio da propagação da Palavra de Deus, a despeito dos ataques externos à igreja.
12.25 - l6.5 - Fala da propagação da igreja na Ásia Menor e da pregação pela Galácia. Finaliza: Assim as igrejas eram fortalecidas na fé e aumentavam em número dia a dia. A igreja crescia em número de membros, diariamente, como resultado de uma evangelização eficaz.
16.6 - l0.20 - Relata a expansão da Igreja na Europa e nas cidades grandes como Corinto e Éfeso: Assim a palavra do Senhor crescia e prevalecia poderosamente. A igreja crescia por causa da poderosa pregação da Palavra de Deus. O evangelho prevalecia contra a magia e o paganismo.
L0.21 - 28.31 - Nos fala da chegada de Paulo em Roma e de sua prisão ali. Termina com uma descrição de Paulo: Pregando o Reino de Deus e com toda a intrepidez, sem impedimento algum, ensinava as cousas referentes ao Senhor Jesus. O que começou há trinta anos atrás em Jerusalém termina em Roma, numa casa alugada. Com toda intrepidez e sem impedimento, o reino de Deus está sendo pregado e produzindo frutos.
O crescimento numérico é destacado por Lucas como algo natural à igreja. Um princípio espiritual é estabelecido como norma: a igreja cresce naturalmente, quando ela obedece a Grande Comissão.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O AGIR DE DEUS

Introdução
Tenho aprendido muito com Deus nos últimos anos acerca de sua estranha forma de agir e sinto-me desafiado a compartilhar isto com tantos quantos eu puder fazê-lo. A forma como tenho recebido a compreensão deste assunto e os conflitos pelos quais passei à medida que Deus falava comigo, dão-me a certeza que este ensino dará o que pensar e falar a muita gente.
Sei que alguns debaterão o que digo simplesmente porque são intransigentes; outros porque ainda não conheceram a dor de circunstâncias aparentemente sem explicação e com cara de "abandono de Deus"; mas sei que para a maioria dos leitores estas verdades serão recebidas como um bálsamo divino. E oro para que sejam um instrumento de restauração e edificação em sua vida.
Não escrevo defendendo e nem acusando ninguém. Só quero que as muitas vítimas da injustiça de alguns cristãos (que criam explicações simplistas e falam daquilo que não entendem e não viveram), possam ter alento. O que compartilho neste livro não é, necessariamente, a resposta para cada circunstância adversa; mas além de ser a resposta para muita delas, é também uma tentativa de mostrar que nosso atual universo de raciocínios e explicações dos fatos da vida cristã está longe de ser completo; é limitado, pobre, cego, e deve nos lembrar de que carecemos buscar em Deus mais revelação de sua Palavra.
Vivemos dias em que a fé evangélica tem crescido e se espalhado grandemente. Graças a Deus por isto! Mas temos que reconhecer que este crescimento numérico tem se dado numa velocidade e intensidade muito maior do que a capacidade da Igreja de fazer crescer em maturidade. O próprio crescimento gera inúmeros problemas e, na busca de uma melhor acomodação dos novos convertidos para que não se perca a oportunidade de crescer, uma nova geração de ministros está sendo formada.
Não com um embasamento forte na Palavra, mas com o estritamente necessário para atender a demanda. E isto tem trazido ao arraial do povo de Deus um evangelho diluído, simplista. Há uma diferença entre o evangelho simples, que toca o homem diretamente nas suas necessidades e que dispensa qualquer intelectualismo, de um evangelho simplista que tenta dar respostas diferentes da Bíblia, e que ao tentar simplificar as questões esquece-se que está lidando com gente que pensa, que tem emoções, sentimentos.
E assim estamos edificando uma geração confusa, machucada, cheia de dúvidas e até de descrença - embora para se fugir do inferno as pessoas aprendam a conviver e até mesmo conformar-se com elas.
Algo precisa sacudir-nos de nossa prepotência de acharmos que podemos entender Deus e sua forma de agir e ditar sempre e até antecipadamente como serão as coisas. Se algo acontece com alguém, sabemos porquê aconteceu; se deixa de acontecer sabemos exatamente o porquê não aconteceu; temos respostas para tudo!
Não posso negar que o reino espiritual é regido por princípios, e que sempre tais princípios serão imutáveis; mas há uma grande diferença entre vê-los funcionando e achar que são eles em operação!
Por exemplo, se alguém peca contra Deus, vai colher as conseqüências, que variam em função do comportamento da pessoa, se ela se arrepende ou não. Davi pecou adulterando e matando um amigo, foi perdoado por Deus (o que remove a mancha da culpa) mas colheu as conseqüências que lhe foram anunciadas pelo profeta Natã. Em uma outra situação (na carta à igreja em Tiatira) vemos Jesus repreendendo o pecado de uma mulher chamada Jezabel, e dizendo que no caso dela não se arrepender, seria julgada e prostrada de cama, num leito de enfermidade.
O pecado sempre tem conseqüências. Se me arrependo sou perdoado mas, ainda assim, colho as conseqüências. No caso de não me arrepender serei julgado. São situações diferentes, mas sempre haverá conseqüência. Pelo pecado de alguém podemos saber que haverá conseqüências e até prevenir a pessoa disto, mas o que não posso aceitar é a análise inversa; pelas circunstâncias que alguém está vivendo, tentar dizer se ela está ou não em pecado. É um campo onde não podemos entrar, além de que não cabe a nós julgar!
A Igreja do Senhor tem falhado muito nesta matéria nestes dias... São respostas simplistas para tudo. Se alguém não recebeu a resposta à sua oração, é falta de fé. Se algo negativo aconteceu foi o diabo e é porque houve brecha espiritual. Se as coisas não estão bem é porque a pessoa está em pecado. E assim por diante. Muitas vezes o que está acontecendo PODE ser uma destas coisas, mas não quer dizer que seja sempre só isto!
Não podemos nos considerar doutores na psicologia divina. Alguns são assim, parece-nos que chegam ao ponto até mesmo de se antecipar ao que Deus vai fazer. Neste caso Ele fará assim, no outro fará assado... mas os caminhos de Deus são mais altos que os nossos e seus pensamentos também! Paulo declarou aos coríntios: "Se alguém julga saber alguma cousa, com efeito não aprendeu ainda como convém saber" (I Co.8:2). Ninguém pode agir como um "sabe-tudo" em relação às coisas de Deus, principalmente em relação ao seu agir que é personalizado.
Voltemos a confiar na soberania de Deus e a aceitar que nem sempre teremos as respostas, mas sempre poderemos caminhar na certeza de que Ele tem o melhor para nós, quer o entendamos, quer não.
01
O Agir Invisível de Deus
Nossa reflexão bíblica começa com um texto escrito pelo homem que foi considerado o mais sábio em toda história da humanidade: Salomão. Não penso ser coincidência que Deus o tenha escolhido para escrever acerca disto; na verdade não acredito em coincidência; a definição dela que aprendi com outros irmãos em Cristo é que coincidência é a obra divina onde Deus não reclama a autoria.
O fato é que o rei Salomão era a pessoa mais indicada para nos dar a pista de que o agir de Deus nem sempre é visto e compreendido pelo homem, não importando quão sábio ele seja. Observe:
"Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no ventre da mulher grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas."
Eclesiastes 11:5.
Três coisas são mencionadas como algo que "não sabemos": o caminho do vento, a formação dos ossos de uma criança ainda no ventre materno, e o agir de Deus.
Na verdade, com a expressão "não sabes", entendemos que o escritor falava de coisas que "não vemos". Podemos saber o caminho do vento através do balançar das folhas de uma árvore, pelas evidências de que ele sopra, mas nunca por ser visível aos nossos olhos. O caminho do vento em si é algo oculto à nossa visão, ocorre fora do alcance da vista dos olhos.
Semelhantemente, a formação óssea de um bebê ocorre fora da vista dos nossos olhos; não podemos ver como ela se dá. Creio que a expressão "não sabes" que o rei sábio usou estava apontando para "o que não vemos", senão nem contemporânea seria esta afirmação, pois hoje a ciência tem trazido uma perfeita explicação da formação óssea do feto; podemos "saber", mas continuamos impedidos de ver.
Lembro-me que durante a gravidez de nosso primeiro filho minha esposa e eu fizemos duas ecografias e pudemos ver a formação física do Israel mesmo antes dele nascer. Contudo, mesmo com todos estes recursos da ciência moderna, a formação óssea do feto – e não falo da certeza que isto ocorre e nem de como ocorre, mas sim do processo – encontra-se fora da vista de nossos olhos. É algo semelhante ao caminho do vento. Podemos saber que ocorre e até ter evidências disto, mas é oculto aos nossos olhos; o que nos leva a defini-lo como invisível.
Com o agir de Deus não é diferente. O texto bíblico diz que Deus age em todas as coisas. Depois o versículo nos deixa claro que as duas menções anteriores de coisas ocultas aos nossos olhos, eram apenas um paralelo que ilustra o agir divino. Deus age sempre e em todas as coisas, porém, nem sempre este agir será visível aos nossos olhos, pois o que o caracteriza é esta sua definição bíblica de que é invisível.
Em nossos dias tenho visto o prejuízo da falta de conhecimento deste princípio e também da falta de temor de Deus. Como pastor ouço pessoas dizendo coisas absurdas com: "Ah, eu já coloquei Deus na parede; se em tanto tempo Ele não me atender, eu...". Dá vontade de dizer para alguns: - "Você o quê? Que ameaça é esta? Se Ele não fizer o que você quer, você faz o quê? Dá as costas para o Senhor e vai para o inferno? Quais são suas opções?"
É incrível a falta de respeito com a qual muitos se dirigem a Deus. Os papéis andam trocados. Pelo comportamento destas pessoas parece até que Deus já não é mais Senhor, mas simplesmente um secretário. Está errado; quem está na condição de servo somos nós e não Ele!
Sabe, há o ensino bíblico da fé, e eu creio nele, pois afinal de contas o que é bíblico é o conselho de Deus e ponto final. Creio no que Jesus ensinou sobre falar à montanha; creio em dar ordens aos problemas e obstáculos para que se movam de nossas vidas e sejam lançados no mar.
Contudo, é um absurdo confundir as coisas e achar que podemos dar ordens para Deus! Ninguém dá ordens a Deus. Diante dele todos devem se calar. Ele é soberano. Ele é santo. Ele é Deus. Ele é todo suficiente. Faz o que quer, como quer, quando quer. A Igreja precisa reaprender isto!
Sei que há promessas e princípios bíblicos que já são uma revelação da vontade divina, e que em situações onde eles podem ser indiscutivelmente aplicados, não precisamos orar para descobrir qual é a vontade do Senhor e o quê Ele quer fazer. Mas mesmo quando já sabemos o quê Ele quer fazer, nem sempre poderemos entender COMO Ele vai fazer o que quer, ou mesmo QUANDO isto se dará.
A forma de agir de Deus nunca foi e nunca será previsível. O homem não pode compreender o agir de Deus com sua mente e raciocínio, pois a operação de Deus está muito acima do nosso entendimento.
Quando Salomão mencionou o agir invisível de Deus, não disse que o Senhor deixa de agir nas circunstâncias onde pareça ausente, mas sim que nós não podemos VER sua operação. Não se trata de Deus deixar de agir, mas sim de fazê-lo de tal forma que nós não o vemos em ação.
Em lugar algum da Bíblia nos é apresentada uma ação divina padronizada. Não vemos o Senhor lidando com as pessoas por atacado, mas justamente o oposto. Cada pessoa e cada situação é tratada por Deus com carinho e criatividade. Há um agir personalizado e isto é inegável. Mesmo nas guerras e batalhas (acontecimentos muito comuns e repetidos nas páginas do Velho Testamento), nunca vemos duas intervenções divinas que sejam iguais.
Para cada situação houve uma intervenção diferente, embora os resultados finais fossem similares. O que concluímos é que mesmo quando a vontade expressa de Deus era livrar seu povo das mãos do inimigo, a forma como Ele faria era sempre um mistério. Ou seja, mesmo quando sabemos o quê Ele quer fazer, não podemos saber como irá fazê-lo.
O que necessitamos então, é parar de achar que Deus nos deva satisfação do seu agir. Ele age sempre e em todas as coisas (circunstâncias). A parte que nos cabe é crer e esperar sua manifestação, e não exigir que o Senhor mostre qual a forma de operar que foi adotada.
Há muita gente cobrando de Deus uma explicação para o que eles não entendem. Só que o Pai nunca prometeu que daria explicação de como Ele estaria operando. As únicas coisas das quais Ele falou foi que podíamos ter como certo é que Ele agiria, e enquanto Ele trabalhasse de forma INVISÍVEL aos nossos olhos, que nós crêssemos.
Um exercício contínuo de fé
Aliás, quero chamar sua atenção para a importância do fator confiança. Deus espera que nosso coração repouse Nele em todo o tempo e circunstância, e escolher um agir invisível aos nossos olhos é um belo treinamento para a nossa fé! Talvez esta seja uma das razões porque o Senhor tenha escolhido agir assim: exercitar continuamente nossa fé. E a definição bíblica de fé é esta:
"Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem."
Hebreus 11:1
Crer no agir de Deus é ter a convicção de algo que não se vê. Nosso irmão Paulo disse aos coríntios que "andamos por fé e não por vista" (II Co.5:7). A lição que o Senhor Jesus deu a Tomé após sua ressurreição é mais um atestado disto. A fé nunca se baseia no que vê, mas na certeza de que o que Deus prometeu é um fato e terá seu cumprimento.
Ora, estas coisas se aprendem logo no início da caminhada cristã e não são difíceis de aceitar; tampouco geram discussões entre o povo de Deus, pois são indiscutíveis. Mas na hora em que alguém está em aperto e não consegue ver Deus agindo (pois Seu agir é oculto aos nossos olhos), esta pessoa se esquece rapidamente disto!
Ninguém tem o direito de exigir do Senhor satisfação sobre sua maneira de agir. Primeiro, porque Ele é Senhor e não está em posição de ser questionado. Segundo, porque Ele nunca prometeu que alguém veria sua forma de agir; pelo contrário, ensina-nos em sua Palavra que seu agir é invisível aos nossos olhos e que nossa caminhada deve ser por fé e não por vista.
Ou seja, não devemos esperar ver, mas somente crer na fidelidade Daquele que prometeu agir em todas as coisas. Concluindo, Ele não tem nenhum compromisso de ter que explicar como está agindo, embora nós tenhamos a responsabilidade de permanecer em fé mesmo sem que haja evidência visível da operação de Deus.
Desde o início do relacionamento de Deus com os homens, vemos esta dificuldade humana de crer no invisível e a insistência divina de que deve ser assim. Quando Deus se manifestou de uma forma tão intensa a todo povo de Israel que saíra do Egito, absteve-se de aparecer em alguma forma para que não tentassem imitá-la depois na forma de ídolo:
"Então, o SENHOR vos falou do meio do fogo; a voz das palavras ouvistes; porém, além da voz, não vistes aparência nenhuma.
Guardai, pois, cuidadosamente, a vossa alma, pois aparência nenhuma vistes no dia em que o SENHOR, vosso Deus, vos falou em Horebe, no meio do fogo; para que não vos corrompais e vos façais alguma imagem esculpida na forma de ídolo, semelhança de homem ou de mulher, semelhança de algum animal que há na terra, semelhança de algum volátil que voa pelos céus, semelhança de algum animal que rasteja sobre a terra, semelhança de algum peixe que há nas águas debaixo da terra."
Deuteronômio 4:12, 15-18.
O que este episódio retrata é a dificuldade que todo ser humano tem de confiar naquilo que não vê. O Senhor escolheu esta dimensão de relacionamento baseada na fé e confiança. E cada vez que Ele age sem que nossos olhos vejam ou nossa mente compreenda, está proporcionando-nos um exercício de fé. Na verdade, como Ele age sempre assim, proporciona-nos um exercício contínuo de fé!
O homem tem dificuldade de aceitar isto; vive tentando criar atalhos e se dá mal, pois quando entra num caminho que Deus não abriu, acaba indo cada vez para mais longe d'Ele. A idolatria em todo o mundo é prova disto; cada povo e cultura, em todos os períodos da história tem conhecido a fabricação de ídolos.
É um meio de tornar a fé visível e palpável; acham mais fácil crer no que se vê (ainda que seja um pedaço de pau ou de gesso) do que naquilo que é invisível. Mas Deus tem se revelado assim e quem quer relacionar-se com Ele tem que submeter-se a isto. E cada vez que nós, cristãos, murmuramos por não termos evidências aos nossos olhos para o agir de Deus, estamos incorrendo no mesmo erro dos idólatras! Parece mais ameno, mas a premissa é a mesma e se não cuidarmos, entristeceremos ao Senhor e nos afastaremos dele.
O não sabermos COMO Deus agirá não é, em momento algum, uma incerteza quanto ao fato de se Ele vai agir ou não; é somente a expectativa de como Ele nos surpreenderá com os caminhos que escolheu ao intervir em cada nova circunstância de nossa vida.
Devemos depender inteiramente do Senhor e aprender a exercitar continuamente nossa fé. Nos dias do ministério terreno de Jesus houve pessoas a quem Ele criticou por sua pequena fé e houve algumas a quem Ele elogiou por sua grande fé. Mas houve uma pessoa, da qual Cristo disse não ter achado fé semelhante a dele em todo Israel.
Era um centurião romano. Em Mateus 8:5-13 podemos ler sobre o pedido dele para que Jesus curasse um criado seu, e no momento em que Cristo se dispõe a ir a sua casa, este homem reconhece que isto nem era preciso e diz que se Jesus dissesse apenas uma palavra seria suficiente para que o milagre acontecesse, pois quando alguém está investido de autoridade suas ordens tem que ser obedecidas. Este centurião não quis nenhuma evidência visível; sua fé estava apoiada na Palavra de Cristo e isto bastava. Jesus disse que este foi o mais alto nível de fé que Ele encontrou. É neste nível que devemos nos sentir desafiados a nos mover quanto às coisas do Senhor!
Não devemos e não podemos agir tentando nos apoiar no que é visível, mas crer e depender inteiramente do que Deus tem dito em sua Palavra. E, à medida em que procedemos assim, exercitamos nossa fé. De fato, confiar em Deus sem depender de um testemunho visível é um exercício de fé. E repito: como Deus age sempre assim, então, o que teremos será um exercício contínuo de fé!
PENSAMENTOS MAIS ALTOS
Nossos olhos não alcançam a esfera da operação de Deus porque ela está num plano superior. Uma outra razão bíblica - além do exercício da fé - que encontramos para o fato de o Senhor agir num plano invisível aos nossos olhos, é que seus pensamentos são mais elevados que os nossos. A mente de Deus é infinitamente maior que a nossa e sua sabedoria é tão gigantesca que não há como dimensioná-la.
Esperar que Ele aja de forma que nós entendamos é limitar e rebaixar grotescamente seu agir. A maneira de nosso Senhor agir transcende o limite humano de compreensão. Quando as Escrituras falam dos caminhos de Deus mais altos que os nossos, relaciona este fato com o de seus pensamentos também serem mais altos que os nossos:
"Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos."
Isaías 55:8,9
Podemos afirmar com toda certeza que o fato de Deus agir por caminhos mais altos (e isto deriva-se do fato de que seus pensamentos também são mais altos) deve-se à sua infinita capacidade de gerenciar todas as coisas. Quando pensamos na resposta para o nosso problema nossa mente limitada e egoísta só vê isto; mas quando Deus pensa na resposta do nosso problema, não pensa só nisto, mas vai além, muito além...
Ele consegue propor respostas que não se limitem só ao momento e conseqüência, mas que toquem a causa do problema e tenham também o poder de continuar agindo em nós quando o que considerávamos problema já não estiver mais presente. Também podemos sugerir que além de nos tocar isoladamente, Ele ainda pode estar propondo soluções que não envolvam somente a nós, mas também outras pessoas.
Deus pode ainda estar tocando não só uma área problemática, mas toda uma rede de outros problemas interligados ao que nos incomodava mais. Ou tocar valores e escolhas erradas que permitiram a entrada e instalação do tal problema. E mais, muito mais!
Nossa mente pode fazer uma grande e abrangente lista, mas não interessa o quão longe nossa perspicácia e raciocínio nos levem, jamais chegaremos perto da forma de pensar de Deus que é muito mais elevada.
A sabedoria de Deus nos é apresentada na Bíblia como tendo muitas formas. Em Efésios ela é denominada como a MULTIFORME sabedoria de Deus. Isto fala de uma sabedoria que não é limitada, mas que se abre num leque infinito de dimensões da operação divina. Esta ilimitada sabedoria pluraliza a resposta de Deus para cada problema ou obstáculo que o ser humano enfrenta; em vez de tocar de forma direta numa única questão, Deus tem o poder de trazer várias intervenções nas situações em que jamais enxergaríamos a necessidade disto.
Considere também que o Senhor conhece o futuro, coisa que homem algum e nem mesmo o diabo tem capacidade de conhecer; portanto a ação de Deus não está voltada somente ao já e ao agora, mas ela se estende para o futuro e sempre priorizará o nosso melhor sob uma visão global, mais abrangente do que jamais nossa mente poderia alcançar. A atuação de Deus é integrada e sinérgica.
Para o ser humano, o desvendar de mistérios parece ser algo de suma importância. Deus, por outro lado, parece fazer questão de ocultar algumas coisas, especialmente aquilo que diz respeito à sua ação em nossas vidas. Salomão foi um homem sábio e inquiridor, mas enxergou em Deus esta característica e a mencionou não apenas no livro de Eclesiastes, mas também no de Provérbios:
"A glória de Deus é encobrir as coisas, mas a glória dos reis é esquadrinhá-las."
Provérbios 25:2.
Esquadrinhar não é coisa somente dos reis, mas de todo ser humano; só que no caso dos reis da antigüidade, quanto mais conhecedores dos mistérios eles eram, mais respeito ganhavam do povo. Mas esquadrinhar é algo que está ligado ao homem de forma geral; todos queremos entender bem e saber explicar as coisas, e diante disto, esta forma de Deus operar parece ser inaceitável à nossa própria carne. Gera lutas, mas precisamos aprender a superá-las e descansar em fé no Senhor.
É engraçado. Parece que quanto mais tentamos entender o agir de Deus, menos conseguimos enxergá-lo. Vemos um acontecimento bíblico que exemplifica isto. É o episódio da aparição de Jesus aos dois discípulos no caminho de Emaús.
Este texto mostra que temos a tendência de traçar nossos próprios planos para o agir de Deus. É como se, inconscientemente, estivéssemos dizendo a Deus como Ele deveria agir. Nos fixamos tanto em esperar que Ele aja de determinada maneira que, ao agir diferente do que esperávamos, não o conseguimos ver. Precisamos aprender a esperar pelo agir de Deus sem nos prendermos ao modo como Ele agirá.
ESPERÁVAMOS QUE FOSSE
Este episódio se deu após a morte e ressurreição de Jesus, quando dois discípulos caminhavam tristes para Emaús, não sabendo que Cristo havia ressuscitado, e o próprio Jesus aparece a eles, mas NÃO PUDERAM reconhecê-lo, pois seus olhos estavam fechados:
"Naquele mesmo dia, dois deles estavam de caminho para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. E iam conversando a respeito de todas as coisas sucedidas.
Aconteceu que, enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles.
Os seus olhos, porém, estavam como que impedidos de o reconhecer."
Lucas 24:13-16.
Repare que o texto diz que os olhos deles estavam impedidos de reconhecê-lo. Não sei se você já parou para pensar porque estavam impedidos, mas eu já. Durante muito tempo eu achei que Jesus não quis que eles o reconhecessem, ou que Ele talvez estivesse diferente depois da ressurreição, mas o fato é que não ocorreu nem uma coisa e nem outra.
Diferente Jesus não estava, pois quando aparece ao restante dos discípulos Ele mostra até mesmo as cicatrizes da ferida que lhe fizeram ao lado como também as dos cravos nas mãos e nos pés; o corpo ressuscitado era o mesmo em sua aparência.
A continuação do texto nos mostra porque eles não podiam ver que era Jesus:
"Então, lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa e de que ides tratando à medida que caminhais? E eles pararam entristecidos.
Um, porém, chamado Cleopas, respondeu, dizendo: És o único, porventura, que, tendo estado em Jerusalém, ignoras as ocorrências destes últimos dias?
Ele lhes perguntou: Quais? E explicaram: O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que era varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo, e como os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram.
Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam."
Lucas 24:17-21.
Os dois discípulos estavam tristes e abatidos e Cristo se faz de alheio e lhes pergunta porque estavam com o semblante daquele jeito; na resposta que dão, percebemos que eles tinham uma expectativa com relação a Jesus e que a crucificação tinha arrebentado com ela! Os judeus em geral esperavam um Messias que se manifestaria como um general de guerra e que os livraria do domínio dos romanos para estabelecer seu próprio reino.
É por isso que Tiago e João pediram, numa certa ocasião, que quando Cristo se assentasse no trono de sua glória, que eles pudessem assentar-se um à direita e outro à esquerda d'Ele; imaginavam um reino físico e, ao lado do rei, queriam ser ministros da fazenda e do planejamento!
Cleopas e seu companheiro demonstram claramente sua frustração ao concluírem com estas palavras: "esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam".
O que eles estavam dizendo?
Que achavam que através dele viria a redenção (física) de Israel, mas já fazia três dias que ele havia sido morto; ou seja, esperavam que fosse ele, mas não foi... Era mais ou menos isto que davam a entender.
A expressão "esperávamos que fosse" é a chave aqui. Eles tinham uma expectativa de como Deus iria agir, mas Deus agiu diferente do que eles esperavam. Enquanto esperavam um reino físico só para Israel, Jesus estava cuidando da redenção dos pecados de toda a humanidade e estabelecendo o aspecto espiritual do reino. Em seu retorno a esta terra Ele vai estabelecer o aspecto físico do reino, mas a primeira vinda não envolvia este aspecto.
Só que os discípulos estavam tão fixados nesta idéia que não conseguiam ver Deus agindo de outra forma! Achavam que a morte de Jesus na cruz tinha sido uma derrota e não conseguiam imaginar Deus no controle dela; e porque só esperavam o agir de Deus de uma única maneira, não podiam ver o que Deus estava fazendo de modo diferente do que haviam pensado.
Assim também é conosco. Fantasiamos tanto o agir de Deus, criamos as hipóteses de como faríamos se nós fôssemos Deus; fazemos nossos planos, fixamo-nos em nossas idéias, e no fim das contas quando o Senhor acaba agindo de modo diferente não conseguimos vê-lo em ação!
Quero desafiá-lo a parar de tentar ensinar Deus como fazer as coisas quando você ora por algo. E mesmo quando você não o faz verbalmente, acaba fazendo com os pensamentos. E por se fixar tanto na espera de uma única forma de atuação divina, seus olhos não reconhecem quando Deus está operando de maneira diferente.
Muitas vezes não podemos ver o agir de Deus porque realmente Deus o ocultou, mas há momentos em que nós nos excluímos da possibilidade de ver por ficarmos tão presos ao que esperávamos d'Ele. Foi só depois que Jesus lhes explicou biblicamente o que devia acontecer com o Cristo, e demonstrou pela sua conhecida forma de partir o pão que era Ele falando com eles, que os olhos deles se abriram! Pois agora já não mais esperavam o general de guerra, mas o Cristo crucificado e ressurreto; e quando começaram a esperar que Deus agisse exatamente como estava agindo, já não havia mais o que os impedisse de ver.
Eu senti o mesmo que estes dois discípulos sentiram. Eu nunca esperei que Deus pudesse agir em circunstâncias aparentemente negativas; e em momentos em que Ele estava operando em minha vida de forma diferente da qual eu esperava, não podia ver que era Ele. Um impedimento estava sobre os meus olhos e não me permitia ver Deus comigo.
Eram os conceitos errados e fantasiosos que eu mesmo criara de como deveria ser a ação de Deus naquele momento. Mas assim que o Senhor começou a me fazer entender a Palavra, e que havia maneiras diferentes d'Ele agir, meus olhos se abriram e pude reconhecê-lo comigo nas horas em que não parecia que Ele estivesse. E foi exatamente assim que se deu com os discípulos:
"E aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando ele o pão, abençoou-o e, tendo-o partido, lhes deu; então, se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles.
Lucas 24:30,31.
Em nossa ânsia de querer compreender tudo de forma racional, esta forma de agir de Deus não parece ser algo assim tão bom. Contudo, à medida em que trazemos mais luz da Palavra sobre esta forma divina de trabalho, percebemos quão linda e inspiradora ela é!
O que inicialmente quero estabelecer (não explicar) é que isto é um princípio. O agir de Deus é invisível, e está fora do alcance da nossa vista. E isto se deve a várias razões. Mencionamos a necessidade de um andar pela fé. Falamos sobre os pensamentos de Deus serem mais altos e não podermos compreender sua multiforme sabedoria e a pluralidade das respostas que Ele traz numa única circunstância.
E falamos, também, que muitas vezes somos tão limitados pela nossa maneira de pensar, em como Deus deveria agir, que quando Ele trabalha de modo diferente não o conseguimos ver. Mas em tudo isto o que mais quero destacar é a enorme e indizível diferença que há entre a nossa forma de pensar e a de Deus em sua multiforme e infinita sabedoria.
Só que esta vantagem divina de pensamentos mais altos não é só sobre o homem mas, também, sobre Satanás e seus demônios...

02
SATANÁS A SERVIÇO de Deus
Chovia na maior parte do percurso enquanto seguíamos pela Br-116 rumo a Curitiba. Embora o apelido da estrada fosse "Rodovia da Morte", ela não nos amedrontava, talvez porque já havíamos feito várias vezes o trajeto de São Paulo até a capital paranaense e vice-versa; e também pelo fato de confiarmos na proteção de Deus.
A viagem seguia tranqüila e sem excessos e, como de costume, gastávamos a maior parte do tempo em oração. Foi assim até a divisa de Estados e outros quatro quilômetros e meio depois. Então, aconteceu o que marcaria para sempre minha vida, não pelas implicações naturais do ocorrido, mas pelo que Deus viria a me mostrar e ensinar, bem como pela nova direção que tomaria a minha vida.
Estávamos somente em dois no carro, Harold McLaryea e eu. A equipe ministerial contava com mais um integrante nas viagens, o Robert Ros, mas neste dia ele não se encontrava conosco, pois tinha viajado antes de nós. A razão disto é que mudávamos a base de nosso ministério de Campinas para Curitiba e nesta viagem carregávamos tudo o que coubera no carro, uma Parati.
O banco traseiro estava deitado e o carro estava cheio até o teto, além de malas sob nossas pernas que repousavam no chão do automóvel. A soberania divina fez com que a falta de espaço poupasse o Robert do acidente e o levou tranqüilo à capital paranaense num ônibus da Viação Cometa.
Foi no dia 23 de Agosto de 1993, uma segunda feira. Não tenho muitos detalhes em minha memória, que apagou quase completamente o ocorrido e que teima em permanecer "esquecida". Mas somei os relatos das pessoas que se envolveram e consegui informações suficientes para entender o que aconteceu.
Os pneus já estavam um tanto quanto gastos (para não chamá-los de "carecas") e o carro não tinha seguro, pois além de tê-lo trocado recentemente, estava meio "apertado" naqueles dias. Disto, o único culpado era eu mesmo, embora durante vários meses quisesse transferir a responsabilidade para Deus.
Quase cinco quilômetros depois de termos entrado no Paraná, ultrapassei um caminhão, e isto fez com que eu elevasse a velocidade do carro a um pouco mais do que a que vínhamos mantendo, cerca de cem quilômetros por hora. O caminhão não queria perder seu embalo e eu forcei um pouco a ultrapassagem, o que me fez terminá-la quando havíamos entrado numa ponte e voltar para minha pista um pouco antes de um outro caminhão que vinha no sentido contrário cruzar conosco.
Foi o tempo de voltar e andar uns duzentos metros apenas, então uma aqüaplanagem aconteceu. Chovera toda a tarde, e nesta hora, umas cinco e meia da tarde, caía uma garoa fina, mas a pista tinha muita água. Não sei o tamanho da poça d'água, só me lembro do carro ter perdido a direção e saído da pista para a esquerda. Não colidimos com ninguém, a coisa ocorreu só conosco, e nos levou direto para um enorme declive com degraus com mais ou menos uns quarenta a cinqüenta metros de desnível.
Ainda me lembro da hora em que o carro saiu da pista e o Harold clamou pelo nome de Jesus. De repente o carro voou barranco abaixo e depois do primeiro impacto deu-se um verdadeiro tobogã, que se responsabilizou por fazer com que tudo o que estava no carro fosse jogado fora, exceto o motorista e o passageiro, presos ao cinto de segurança.
Fomos parar a uns setenta metros da rodovia. Bati várias vezes a cabeça, o que me fez perder a consciência. O caminhoneiro que eu havia ultrapassado assistiu a cena e parou prestar socorro; Harold e ele me levaram barranco acima e logo um carro parou, levando-nos até o posto da polícia rodoviária mais próximo; e eles, por sua vez nos levaram até o hospital em Campina Grande do Sul, próximo a Curitiba.
Tive traumatismo craniano, levei uns trinta pontos no rosto e na cabeça, e devido à uma fratura mais séria na mão esquerda, precisei fazer uma cirurgia e colocar dois pinos de platina. Por causa da intensidade das pancadas na cabeça precisei passar dois dias em observação na U.T.I. Já o Harold saiu ileso e sem nenhum arranhão.
Já no hospital descobri que havia perdido tudo. O carro dera perda total. Nossas malas foram roubadas. Quanto ao resto da mudança, o que não se estragou na queda e no barro, também foi roubado.
Mas a dor não era tanto a da perda, mas a de um sentimento estranho que começou a brotar em minha alma. Era um misto de abandono com rejeição; algo contra o qual eu lutava, mas que aos poucos parecia me engolir. Porque Deus havia permitido aquilo? E as orações que lhe havíamos feito? E suas promessas de proteção e cuidado? Porquê? Porquê? Porquê?
Entrei em crise. Os irmãos me visitavam e tentavam me animar mostrando que o Senhor guardara nossas vidas. Afinal eu lhes havia contado que o médico me mostrou o resultado da tomografia que acusava dificuldade de distinguir massa branca e cinzenta e lesões nas partes moles do cérebro; isto em si não era assim tão complicado, mas indicava a intensidade do trauma; só que o médico havia me dito que considerando que este trauma aconteceu numa parte delicada da cabeça, que é a fonte, eu poderia até mesmo ter morrido.
Havia ainda a questão da minha vista; minha pálpebra esquerda foi restaurada no centro cirúrgico pois havia se rasgado até um pouco mais da metade, e os médicos ali disseram que meu globo ocular (e consequentemente minha visão) foi poupado de forma milagrosa.
Vendo-me abatido, os irmãos em Cristo tentavam mostrar-me o lado da intervenção de Deus. Só que algo dentro de mim doía muito; eu não ousava dizer, mas pensava comigo mesmo que, intervenção milagrosa por intervenção milagrosa, não teria sido mais fácil o Senhor colocar meu carro de volta na pista na hora em que desgovernamos?
Porque Ele havia nos deixado cair barranco abaixo para então resolver proteger? Onde Ele estava à hora em que precisei dele? Se eu dera minha vida ao ministério e à obra do Senhor, cuidando das coisas d'Ele, porque Ele não cuidara de mim e das minhas coisas?
Pensava como um insensato e sabia disto. Não tinha coragem de dizer aquelas coisas, mas não conseguia parar de pensar. E uma dor profunda me atravessava o peito, querendo me convencer de que Deus havia me abandonado na hora em que eu mais precisei dele. Para minha razão não havia a menor sombra de dúvida de que o Senhor é justo e fiel, mesmo quando as circunstâncias insistem em fazer parecer que não; mas eu não conseguia convencer minhas emoções.
Meus sentimentos diziam outra coisa e uma verdadeira batalha interior começou, vindo a durar muitos meses. Em alguns momentos eu achava que era muito drama interior para um rapaz de vinte anos e que eu podia estar aumentando as coisas, mas não havia meios de me convencer e aplacar o sentimento.
Eu pregava desde os dezoito anos e já fazia dois anos que viajávamos por várias cidades e estados, levando o mover do Espírito a muitas igrejas que não o conheciam. Tive o privilégio de ver muitos milagres e intervenções poderosas de cura; o sobrenatural era freqüente nas reuniões; e ainda havia a ênfase de uma vida vitoriosa que sempre dávamos, e na verdade, era isto o que mais me incomodava, pois eu me sentia como que se tivesse sido golpeado pelo inimigo. Aquele acidente não tinha nada a ver com a vida vitoriosa que eu acreditava. E ele derrubou meus castelos espirituais que eu havia construído com um pouco de fantasia.
Na época, tínhamos uma agenda de viagens bem cheia para o ano todo e foi necessário dar uma parada, pelo menos para a minha recuperação. E de repente os planos mudaram. Na verdade não apenas mudaram, mas acabaram-se de vez! E comecei a deixar as coisas rolarem e pedir que Deus estivesse no controle...
Foi neste período que acabei vindo para Guarapuava, no Paraná. Tínhamos estado várias vezes na cidade, pregando numa igreja denominacional que foi fortemente impactada pelo mover do Espírito. O pastor começou um novo trabalho fora da denominação, mas não ficou muito tempo; uns quatro meses após ter iniciado o trabalho, foi para outra cidade, e o único contato que aquele grupo de irmãos tivera como nova igreja fora conosco e com nossos pastores, da Comunidade Cristã de Curitiba.
Pediram-nos ajuda e começamos a estender auxílio ao trabalho, embora com a intenção de não ficar em definitivo, pois não nos considerávamos pastores, somente um ministério itinerante de apoio. Mas Deus falou ao nosso coração e ao do grupo, e decidimos dar pelo menos uns tempos investindo no trabalho local. Inicialmente pedimos reforço ao Luís Gomes, amigo e companheiro de muitas viagens, que na época não compunha nossa equipe, mas desempenhava seu próprio ministério.
Alguns meses depois, Harold e Dorilene, recém-casados se uniam conosco na missão de pastorear a Comunidade Cristã de Guarapuava. Que viravolta! Eu sempre havia declarado a muitos irmãos e amigos que a última coisa que eu queria neste mundo era ser um pastor. E de repente aí estava eu! Não sei o que pensei ao certo, mas recordo-me que não tinha planos de estar aqui até hoje; mas tenho aprendido que "O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do SENHOR." (Pv.16:1).
Passei muitas crises interiores com o acidente, mas cansei de brigar com Deus e não ter resposta e acabei desistindo de insistir e engolindo minhas interrogações até quando agüentasse. Um ano e três meses depois do acidente, e com quase um ano em Guarapuava, fomos ordenados e reconhecidos como presbitério local; nossos pastores vieram de Curitiba e procederam como de costume, pedindo-nos que nos preparássemos para uma ministração profética que ocorreria junto com a ordenação. Nesta época eu já desconfiava que Deus tinha aproveitado tudo aquilo para nos trazer a Guarapuava, mas tinha minhas dúvidas e o medo de estar sendo acomodado demais ao transferir tudo ao controle divino.
Foi então que aconteceu; através dos pastores, Deus falou ao meu coração sobre como ele havia quebrado algumas pontes para tratar comigo e me guiar dentro de seu plano; que Ele havia me tirado daquele ministério itinerante para me fazer crescer e que a seu tempo isto seria restituído.
O Senhor usou Miguel Piper, Thomas Wilkins, e Francisco Gonçalves, cada um acrescentando algo; mas não foram só palavras, houve um sentimento novo, uma testificação espiritual de que era aquilo mesmo, houve uma vida nova que entrou em mim! Louvado seja Deus por aquele dia tão especial, mas os detalhes do que eu precisava ouvir vieram quase um mês depois, quando o pastor Francisco Gonçalves voltou para nos visitar e ministrar. Numa conversa descontraída em casa falávamos sobre nossas experiências com anjos, eu, Luís, e ele.
E acabei lhe perguntando qual fora a experiência mais recente que o Senhor lhe tinha dado. Para minha surpresa, ele respondeu que havia sido na nossa ordenação, e que a palavra profética que ele havia proferido, era, na verdade, uma visão que Deus lhe dera e que ele havia conversado com um anjo acerca do meu ministério, e apenas transmitiu o que ouviu na conversa! Fiquei espantado e comecei a inquisição para arrancar cada detalhe do que fora aquela experiência.
Não quero parecer sensacionalista ao contar a experiência em seus detalhes. Justamente pela sua humildade verdadeira, Francisco nem havia me dito o que acontecera, só dera a mensagem de Deus sem alardes. Mas Deus sabe que eu jamais teria aceitado os detalhes se não tivessem vindo de uma forma tão espetacular e por meio de alguém da minha mais alta confiança.
O QUE O ANJO REVELOU
Enquanto o pastor Francisco orava por mim, Deus lhe abriu os olhos espirituais e ele viu um anjo em pé ao meu lado. O mensageiro celestial se apresentou de maneira formal dizendo: - "Fui enviado da parte do Deus Altíssimo para te fazer saber algumas coisas acerca destes ministérios (a referência plural envolvia nós três). Você tem uma preocupação muito grande por eles, mas Deus te faz saber que eles estão nas mãos do Senhor, e que estão no lugar certo, na hora certa, fazendo a coisa certa." Após esta referência ao nosso ministério plural, a palavra passou a ser especificamente sobre a minha vida. O anjo prosseguiu:
· "Quanto a este, é um guerreiro divertido; ele não pergunta se é o tempo de Deus ou não para atravessar a ponte..." E então a mensagem continuou, não apenas nas palavras que ele usava, mas em visões que ilustravam o que ele estava falando. Neste momento em que o anjo afirmava que eu não perguntava o tempo de Deus para atravessar uma ponte, Francisco via a cena: eu estava diante de uma ponte e afirmava: - "Ponte foi feita para passar", quase como que dizendo: - "Se ela está aí eu não preciso esperar nenhuma hora específica, é só seguir em frente".E era isto que o pastor me via fazer na visão; passei correndo uma, duas, três, várias pontes! E ele simplesmente sabia, mesmo sem lhe ser dito, que as pontes significavam o acesso de um nível ministerial a outro; Deus comunicava-lhe isto ao espírito à medida em que a revelação vinha. Eu passava as pontes bem depressa, e uma atrás da outra! Até que o mesmo anjo foi e quebrou algumas pontes diante de mim para que eu não as atravessasse; foram mostradas três pontes específicas que ele destruiu para que eu não passasse. E então veio a explicação pela boca do mensageiro celestial:
· "Ele estava avançando para níveis ministeriais sem que estivesse pronto, tratado, para isto. Por isto foi necessário quebrar algumas pontes, mas ele é rebelde e não aceita o tratamento de Deus. Quanto àquele acidente do ano passado, diga-lhe que Satanás tentou tirar-lhe a vida, mas diga por que Deus o permitiu, embora sem deixar que sua vida fosse tocada. Seu ministério estava crescendo muito rápido sem que ele fosse trabalhado no íntimo, e neste ritmo ele iria sucumbir debaixo do peso do próprio ministério; era uma questão de tempo. Por isso Deus o parou; mas também para trazê-lo a esta cidade e tratar com ele; e quando ele estiver pronto, o Senhor lhe dará um ministério de proporções ainda maiores."
O impacto desta mensagem foi e ainda é muito forte em minha vida. E até hoje quando conto esta experiência me emociono e ao mesmo tempo me envergonho. Eu questionei a justiça e fidelidade de Deus muitas vezes por Ele ter permitido que aquele acidente ocorresse. Eu não falava isto, mas repetidas vezes eu pensei. E enquanto eu o julgava assim no meu coração, Ele estava cuidando de mim! O Senhor estava me protegendo de algo pior, não me abandonando naquela hora.
Ele nunca nos abandona. Ele prometeu estar conosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Jamais haverá um dia sequer em nossas vidas no qual o Senhor não esteja ao nosso lado! Nosso problema é tentar compreender o agir de Deus em vez de confiar que Ele está no controle - mesmo que de modo estranho aos nossos olhos e maneira de pensar.
Meu coração se quebrou quando entendi o que havia acontecido. Pedi perdão ao Senhor por não confiar n'Ele de todo coração e ter interiormente duvidado e murmurado contra Ele. Sei que Deus me perdoou, mas até hoje tenho vergonha do papelão que fiz. Como fui idiota, insensato! E muitos cristãos têm feito isto; ficam criticando Deus enquanto Ele os defende, protege e provê o seu melhor para eles. Somos os únicos injustos (e ingratos!) nesta história, e não Deus.
Mas sei que o Espírito Santo vai lhe revelar muitas coisas sobre sua vida pessoal à medida em que você prossegue na leitura deste livro. Aconselho-o a não oferecer resistência, mas quebrantar-se diante de Deus e permitir que Ele o sare. Eu estava muito ferido e machucado por dentro devido às mentiras que o diabo havia assoprado em minha mente, mas a compreensão do que Deus estivera fazendo fora da vista dos meus olhos sarou-me por completo e revelou-me uma nova dimensão do amor e do cuidado d'Ele por mim. Muitas outras verdades bíblicas começariam a ser desvendadas diante dos meus olhos a partir desta revelação.
Até então, se eu ouvisse alguém ensinar o que hoje estou ensinando, eu discordaria e possivelmente até entraria em choque. A influência que recebi do "ensino da fé", me fez ficar um pouco "triunfalista", numa fantasia de que o que crente pode vir a ser intocável. Recebi uma grande influência dos ensinos de Kenneth Hagin, Dave Roberson, e outros ensinadores da fé. E louvo a Deus por suas vidas e ministérios, pois eles têm sido instrumentos de Deus para resgatar a vida vitoriosa que há em Jesus e vivem o que pregam.
Mas o Senhor começou a me mostrar que eu havia criado uma mentalidade errada a partir de princípios corretos. De fato Deus prometeu vitória sobre o inimigo, mas isto não queria dizer que eu nunca sofreria um acidente como o que sofri, pois foi uma vitória sobre Satanás! Como disse o anjo, se isto não tivesse acontecido (e consequentemente me freado), eu poderia até ter perdido o ministério; e isto sim, seria uma derrota. Mas o acidente não foi derrota, foi vitória e a forma como Deus não apenas me livrou de um ritmo perigoso, como também redirecionou o meu ministério e começou a tratar com o meu caráter e alma de forma mais profunda.
O detalhe que eu não via nestes homens de Deus é que o que eles pregavam era um alvo de vida cristã, não algo que ocorreria de forma imediata ou instantânea com ninguém, pois nem em suas vidas foi assim. Hoje, tendo passado a fase do tratamento de Deus, eles estão numa outra dimensão, e creio que Deus realmente quer que avancemos para uma dimensão mais profunda de vida cristã, se movendo mais intensamente no sobrenatural e em grandes conquistas. Mas ninguém se iluda, pois isto não acontecerá sem o tratamento de Deus em nossa alma!